À descoberta da Estrada Nacional 103, Portugal
Qual Route 66. Isso já deu o que tinha a dar. Estou a brincar! Claro que um dia a quero fazer! Isso, e a nossa Nacional 2! Já está há imenso tempo nos meus planos. No entanto, tive o privilégio de fazer algo Off the Beaten Track – a Estrada Nacional 103. Já há algum tempo que não escrevo roteiros, tenho destinado mais tempo a uma narrativa mais antropológica, um storytelling mais profundo. Desta vez, percorri um vasto percurso em quatro dias e por isso, irei fazer essa viagem convosco, com destaque para as coisas que mais me marcaram. Até porque se quiserem fazer a Estrada Nacional 103, ficam com uma boa ideia de onde devem ir 🙂 Vamos a isto?
Assim que me falaram desta possibilidade, fiquei em êxtase! Nunca tinha ouvido falar da beleza desta estrada, era uma zona que não conhecia bem e afirmo – fiquei rendida. Se quiserem desanuviar, desconectar, descansar e mais coisas começadas por “des”, esta a estrada para descobrir 😉
Nem sempre haverá rede ou internet, o que nos dias que correm, pode ser considerado um luxo. Poder viver sem estar ligado. Aproveitar o momento. #carpediem #yolo
Bragança
Cheguei a Bragança, numa quarta-feira à noite, sozinha, vinda de Lisboa, depois de 6h30 dentro do autocarro. Marquei uma noite no Hotel Tulipa, já muito tarde, por volta da meia-noite e meia, e onde o autocarro parou nada estava aberto devido ao COVID. Resultado? Cheguei a Bragança cheia, cheia de fome. Comentei com a funcionária do Hotel e ela ofereceu-me uma sandes. Não tenho palavras para agradecer. Sinto que me salvou a vida.
No dia seguinte, acordei cedinho, cedinho para trabalhar antes de me juntar ao grupo de viajantes que iria percorrer a Estrada Nacional 103 comigo!
Passámos por Rio de Onor, como descrevi nesta publicação, mas a primeira paragem da Estrada Nacional 103 foi de volta a Bragança. Quem conhece a Lenda do Castelo de Bragança ou da Torre da Princesa? A história de uma princesa órfã que esperava ansiosamente pelo seu amado? Passámos pela igreja de S. Vicente, na qual se acredita que tenha sido celebrado o casamento entre D. Pedro e D. Inês de Castro, e descemos pelas ruas pitorescas da cidade.
Tivemos a oportunidade de visitar o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, onde existe a divulgação das tradições relacionadas com as máscaras do Nordeste Transmontano e da Região de Zamora.
Quem já conhece a tradição dos caretos? Na vida transmontana, os rituais com máscaras acontecem todos no inverno. Tem a ver com ritos de passagem, transição para a idade adulta, o culto da fertilidade, as tradições pagãs, as cerimónias religiosas ou os rituais agrícolas. Nunca vi ao vivo, mas quero muito, muito ir! E vocês? Já foram?
Quero imenso voltar a Bragança, porque fiquei com vontade de conhecer melhor esta cidade que não conheço tão bem. Tive sempre a sensação que Bragança era muito longe, por ser algarvia. Depois de viajar meio mundo, Bragança é definitivamente perto e não faz sentido que eu não tenha mais conhecimento sobre esta zona de Portugal.
Vinhais
Uma das surpresas da viagem foi sem dúvida a nossa passagem por Vinhais. Só conhecia esta terra pelas suas célebres músicas da Feira do Fumeiro. Adorei pernoitar e passar algum tempo no Parque Biológico de Vinhais. O Parque está situado em pleno Parque Natural de Montesinho e acolhe animais resgatados que não reuniam condições para estar no seu habitat. Uma coisa que aprendi em Vinhais é que “Todos os cogumelos são comestíveis, alguns é que são só uma vez”, e por isso é que é importante participar nos workshops de micologia, para saber distinguir entre um cogumelo venenoso e um comestível.
Uma das coisas que mais me encantou neste parque, para além das espécies autócones presentes, foi a verdadeira preocupação com a sustentabilidade. Existe uma importante vertente de educação ambiental, ecoturismo e foco no desenvolvimento das comunidades locais. O nosso bungalow era mesmo ao lado da piscina biológica e adormeci ao som das rãs. Confesso que achei super relaxante e terapêutico! O bungalow tinha quatro quartos, duas casas-de-banho e uma cozinha e sala comum. É óptimo para um grupo ou família. Para além disso há cabanitas! Adoro cabanitas!!
Há um relvado enorme para fazer yoga e estar em completa comunhão com a natureza. Este é o sítio perfeito para um detox de tecnologia, até porque a rede é escassa. Quem tem crianças, também tem imensas actividades para fazer, como por exemplo, visitas guiadas, alimentação das raças autóctones (hora da papinha) e passeios de burro mirandês. Para além das actividades com animais, há também percursos pedestres e de bicicleta.
Jantámos muito bem no Restaurante Comercial e comi tantas entradas boas que já quase não consegui comer o prato principal – um clássico.
Boticas e Montalegre
Boticas surpreendeu-me logo à chegada por me ter mostrado o trabalho de Nadir Afonso. Fiquei a saber que em Chaves podemos encontrar a sede da Fundação Nadir Afonso e o Centro de Artes Nadir Afonso de Boticas aloja uma parte do espólio pessoal do pintor e também parte do acervo da Fundação. Conheci também a história do Vinho dos Mortos – “Uma história que nos leva até ao ano de 1808, quando os franceses invadiram a região, o povo, com medo que lhes pilhassem os bens, escondeu o que conseguiu, o vinho foi enterrado no chão das adegas, debaixo das pipas e dos lagares. Mais tarde, quando recuperaram os bens que restaram e ao desenterrarem o vinho, julgaram-no estragado, mas descobriram que estava muito saboroso, pois tinha adquirido propriedades novas”. Estou super, super curiosa para provar este vinho porque achei esta história muito interessante.
O nosso almoço foi no Hotel Rio Beça e surpreendeu pela boa comida, como já é habitual no Norte. Uma menção honrosa para o salpicão frito com pão de centeio, alheira com feijão frade e carne barrosã. Vejam o vídeo abaixo 🙂
Sugeriram-me que numa próxima visita, passasse pelo Castro do Outeiro do Lesenho e Vale do Terva, incluindo o Poço das Freitas.
Na parte da tarde visitámos o Boticas Parque onde é possível passear por vários passadiços e trilhos. O Rio Beça também pode ser contemplado ao longo do Parque assim como vários animais de quinta. Para quem quiser pernoitar aqui ou fazer pesca desportiva, também há essa possibilidade.
Trouxe um carvalho para plantar do Boticas Parque. Vamos ver se me acompanhará daqui para frente no desenrolar das minhas aventuras!
Daqui, seguimos para um passeio por Vilarinho de Negrões. É uma aldeia lindíssima no concelho de Montalegre. Encontra-se numa estreita península, e foi pré-finalista na categoria: “Aldeias Ribeirinhas” nas 7 Maravilhas de Portugal. Situada na margem sul da Albufeira do Alto Rabagão, foi a partida para um passeio de barco. Apanhei a molha do ano, ganhei a miss blogger molhada, mas as paisagens, essas, eram incríveis. Foi provavelmente dos meus sítios favoritos de toda a viagem!
Parámos na Estrada Nacional 103, para ver o pôr-do-sol na Ponteira e entender os limites do Parque Nacional Peneda-Gerês.
Ficámos a dormir no Hotel São Cristóvão, ao qual eu chamaria uma piscina com Hotel. A piscina é giganteeeeee! Fiquei com um quartinho com vista para uma pontinha do Rabagão. Fomos jantar ao Assador Barrosão que recomendo vivamente! Carne Barrosã do melhor que há, como é óbvio.
Assim que puder estarei no Sexta 13!! Acho que é o tipo de festa que eu vou amar!
Ponte da Barca
A primeira paragem foi junto ao Lima Escape Camping e Glamping. Havia a opção de experimentar Stand-Up Paddle ou Kayak. Como tenho os joelhos feitos em marmelada e a minha condição física não está para remar muito, decidi ficar a tirar fotografias. Os meus dotes de fotógrafa não foram incríveis, mas a diversão dos meus amigos ficou-me na memória. Também devemos ser felizes a ver os outros felizes 🙂
Adorava ficar um dia aqui a dormir! Tem umas tendas e uns bungalows super giros. Vi uma malta a fazer yoga no seu terracinho no meio da Natureza e fiquei super invejosa. Inveja da boa!!
Seguimos para um almoço maravilhoso no Vai à Fava onde a opção vegetariana estava incrível. O restaurante é mesmo ao pé do rio e foi aqui que fiquei a saber que se pensa que Fernão de Magalhães poderá ter nascido aqui.
“Magalhães nascera à volta de 1480, na província de Entre Douro e Minho, crê-se com razões de acerto que em Ponte da Barca”.
(Joaquim Veríssimo Serrão, in “História de Portugal 1495-1580”, volume III).
Arcos de Valdevez
O que mais ouvi em Arcos foi: “Arcos de Valdevez, Onde Portugal se fez”. Este mote relacionado com o Torneio de Arcos de Valdevez, também conhecido como Recontro de Valdevez, um decisivo episódio da História de Portugal ligado à fundação da nacionalidade.
Passámos pela Porta do Mezio, uma das cinco portas do Parque Nacional da Peneda Gerês, onde fiz arborismo pela primeira vez. Não fiz o percurso todo, fiz o mais pequenino, mas tentei vencer o meu medo de alturas. No fim, até fiz slide 🙂 Também achei muito interessante o Centro Interpretativo da Área Arqueológica Mezio/Gião e o o Museu Rural e Etnográfico.
Em conversa, falámos sobre Sistelo – nunca lá fui, já há algum tempo que estou curiosa e achei graça dizerem que “Não se encontravam quatro pessoas para jogar às cartas, e agora não se encontra lugar para quatro pessoas jogarem às cartas”.
Foi aqui também que provei Charutos e Broinhas – uma delícia! No entanto, a surpresa maior da Porta do Mezio estava ainda para chegar – Observar as estrelas. Foi incrível! Se puderem, participem!
Já não houve tempo para conhecer o Paço de Giela, mas fiquei a saber sobre a Festa do Dia de Halloween e com muita vontade de visitar.
No final do dia, fui finalmente conhecer o Soajo! Há anos que queria ver os espigueiros do Soajo e ali estavam eles – lindinhos que só eles! São 24 espigueiros numa eira comunitária com uma vista incrível.
O dia não acabaria sem paparoca da boa no Saber ao Borralho. A Carne Cachena era M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A. Comi muito mais carne nestes dias do que tenho comido nos últimos meses, mas valeu cada pedacinho.
Descansei como um anjinho no Ribeira Collection, e tive imensa pena de não poder ter aproveitado mais o hotel, que tem uma localização fabulosa. Tenho nas minhas tarefas enviar um email ao hotel para perguntar a marca daquelas almofadas, porque dormi mesmo, mesmo bem.
Ponte de Lima
A nossa última paragem da Estrada Nacional 103 foi por Ponte de Lima, onde deambulámos pelas ruas e aprendemos um pouco da história deste local. Existem duas pontes – uma romana e outra medieval. O rio mudou de curso só não se sabe se por intervenção humana ou não.
Segundo a lenda, as legiões romanas comandadas por Brutus chegaram à margem esquerda do rio Lima, e temiam atravessar o rio Lima pela crença de que este se tratava do rio do esquecimento. Tinham medo de esquecer-se para sempre da sua pátria e quem eram. Brutus atravessou o rio e, da outra margem, chamou todos os seus soldados pelo seu nome.
Algumas coisas que prenderam a minha atenção foi que a Feira de Ponte de Lima é a feira mais antiga que se tem conhecimento em Portugal e que esta foi durante muitos anos a única ponte sobre o rio. No rio existia também o Barco “Àgua-Arriba” que servia de meio de transporte de pessoas e de bens. Tivemos a oportunidade de andar numa réplica do barco tradicional.
Para almoçar, recomendo o Restaurante Monte da Madalena que tem uma vista lindíssima. Para uma tarde na esplanada bem passada com uma boa sangria, é uma óptima opção.
Fomos ao Paço de Calheiros, que é uma casa senhorial habitada pela família Calheiros, que abre as suas portas aos convidados. Quem quiser ter a oportunidade de dormir numa cama que foi da Rainha Carlota Joaquina, não pode deixar de fazer aqui a sua reserva. Este, é um Solar do século XVIII, habitada pela família Calheiros há 700 anos, rodeado de jardins classificados como históricos e de vinhas que dão origem ao vinho verde produzido na casa.
A nossa viagem por Ponte de Lima, terminou no Clube Náutico a falar com o nosso campeão Fernando Pimenta. Tivemos uma conversa incrível sobre manter o foco e motivação quando já se está no topo.
Agradecimentos
Não posso deixar de agradecer ao nosso motorista Manuel, da Living Tours que foi uma excelente companhia durante todos os dias que explorámos o Norte de Portugal.
Esta viagem pela estrada Nacional 103 foi uma parceria com o Turismo do Porte e Norte, a quem muito agradeço pela inesquecível experiência que me proporcionou.
Inês
Não sei quem tirou aquela foto com os espigueiros, mas sinto que é a cereja no topo do bolo deste post. Ahahahah, belo artigo. Beijinhos
acrushon
A fotógrafa é uma super profissional! Beijinhooos